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25 de Março

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A área central da Rua 25 de Março deve ser tratada com a importância de um território que gera riqueza, já consolidado historicamente como área comercial, principalmente atacadista, e que precisa melhorar seu suporte físico com o único fim de persistir na sua vocação.

Não acreditamos em políticas, legislações ou mudanças físicas unilaterais, mas na simultaneidade dessas ações. Acreditamos também na democratização das localizações qualificadas, que aposta na heterogeneidade dos espaços públicos. Quando são realizados investimentos nos espaços urbanos, estes se transformam em espaços disputados onde o problema da exclusão pode tornar-se dramático. Essa atuação não pode ser um produto da economia imobiliária que apenas satisfaça os comerciantes. A ideia é um projeto integrado que otimize os usos sob a mira do desenvolvimento e da transformação em proveito de uma economia municipal, considerando os habitantes e comerciantes formais e informais como parceiros responsáveis e não apenas como beneficiários. Acreditamos ainda que a cidade não admite soluções padronizadas, cada lugar deverá estabelecer a sua própria identidade sobre seu potencial urbano, seu desenvolvimento e sua gestão dos espaços públicos.

A área de intervenção é perfeitamente definida pelas condições topográficas do espigão das ruas Boa Vista e Florêncio de Abreu, o vazio do parque Dom Pedro II e o eixo do vale formalizado pela Rua General Carneiro. Esta condição originária da construção da cidade está ainda presente na definição do espaço urbano, somada agora às rupturas implantadas posteriormente com as Avenidas do Estado, Avenida Senador Queiroz e Avenida Rangel Pestana, que reafirmam a configuração confinada do polígono desta área de intervenção.

Sabemos que o excesso de homogeneidade de usos tem demonstrado ser um fator que pode levar à decadência. Este território deve ser renovado, criando novas sinergias entre diferentes tipos de atividades, tais como escolas técnicas de comércio, de culinária brasileira e de costura, habitação, hotelaria e atividades culturais, usos que permitem o trânsito de usuários distribuído ao longo do dia.


Hierarquia viária

As ruas paralelas 25 de Março e Com. Abdo Schahin são lidas como um binário conectado pelas ruas Virgilina Sales e Lucrécia Leme, o que gera perspectivas que podem ser complementadas com boxes de alimentação e duas pequenas praças bem sombreadas, configurando um lugar de estar propício para performances populares.

A proposta parte da observação da falta de lógica e da dificuldade de leitura pelo usuário, por isto propomos eliminar o trânsito de passagem e a circulação de transporte coletivo, substituído por um Veículo Leve sobre Trilhos. Isso se daria através de uma pequena intervenção no fim da Rua Carlos de Souza Nazareth, desviando o fluxo de passagem, hoje pela Rua 25 de Março, para uma área tangencial à Avenida Exterior. Esta intervenção é possível, uma vez que as larguras das ruas e avenidas permitem manter os fluxos existentes. Vias como a Avenida Exterior e a Rua Carlos Souza Nazareth estão sendo subtilizadas, pois suas larguras permitem quatro ou cinco faixas de veículos, o que é um fluxo significativo.

Ligado a este anel e dando sentido a este sistema, junto ao Mercado Municipal, propõe-se uma negociação com os proprietários destes dois quarteirões para a construção de um estacionamento de grande capacidade (aprox. 2000 automóveis) e um terminal de ônibus de turismo, táxis e veículos para fretes de mercadorias, o que relocaria os comerciantes desapropriados para a Rua da Cantareira.


Pavimentação

As ruas e calçadas terão um pavimento único com intuito de qualificar espacialmente as áreas públicas, evitando a subdivisão convencional da guia e rebaixos. Desta forma, será facilitado o trânsito de pedestres nas épocas de grande afluxo de pessoas, proporcionado maior conforto e segurança para que se possa trafegar com carrinhos de carga e outros veículos. Propomos uma solução construtiva monomatérica e monocromática, sem desenhos, porque entendemos que o valor estético de uma área urbana reside apenas na manifestação da essência das infraestruturas e não na aplicação de elementos decorativos.


Rua elevada

Numa etapa posterior, e depois da verificação do uso inadequado dos andares superiores existentes degradados e sem uso, iremos propor a criação de um novo solo urbano semipúblico, que só terá sentido se conseguirmos conectar, a partir de vários acordos entre os proprietários, o nível da Rua Florêncio de Abreu através dos diferentes prédios até o novo estacionamento proposto. Estas ligações criarão novos fluxos de pessoas abrindo uma nova frente de negócios.


Comércio informal

Pretendemos integrar esta realidade à transformação urbana, abrindo um espaço que também será significativo para a cidade, para que não exista exclusão dentro deste território. Criamos assim a idéia de um boulevard do comércio informal, com toda a espacialidade e equipamentos necessários para a segurança e conforto das pessoas, com policiamento, sanitários e valores estéticos adequados ao caráter popular deste setor.

Local:
São Paulo, SP

Data:
2001

Cliente:
Prefeitura Municipal de São Paulo

Área de intervenção:
315.000 m²

Arquitetura e Urbanismo:
VIGLIECCA&ASSOC
Hector Vigliecca, Luciene Quel, Lilian Hun, Fábio Galvão, Ana Carolina Penna, Ana Carolina Poli, Paula Bartorelli, Ronald Werner Fiedler

Perspectivas:
Fernando Piriz

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